Letícia Estella

A Revolução dos Bichos é aquele tipo de livro que merece uma resenha e que, ao mesmo tempo, dificulta a escrita desta. Não importa que eu conte qual é a história do livro, não é o que o torna interessante. Também não acredito que descrever as alegorias presentes na obra ajudem a compreender sua importância, pois é preciso lê-lo na íntegra para que isso seja realmente possível.

O que posso dizer com convicção é: foi uma das melhores leituras que já fiz. Por muito tempo não quis lê-lo por achar que bichos como protagonistas poderia ser algo estranho - mas, já que esse era o tema do desafio literário de março, por que não?

O livro não é muito longo, tem uma linguagem fácil e uma história cativante. Até aí, nada demais. Mas, afinal, o que o torna incrível?

George Orwell conseguiu, através de alegorias simples, fazer uma crítica ao sistema político e, mais do que isso, à necessidade de poder do homem. Cada bicho, ao tomar a fazenda do seu dono, inicialmente representa os trabalhadores. Mas, aos poucos, descobrimos que cada um deles está ali por uma razão, e suas ações nos mostram quem simbolizam.

Qualquer um que tenha prestado atenção às aulas de história do Ensino Médio irá conseguir identificar as referências mais claras. Eu que, além disso, me interessava muito pela matéria, consegui identificar muitas coisas. Mas não tudo - e isso não tornou a leitura menos interessante.

Na edição da Companhia das Letras há um incrível posfácio de Christopher Hitchens que ajudou a complementar a leitura e a entender muitos fatos que passaram despercebidos por mim. Há também dos prefácios do autor, que falam sobre liberdade de imprensa (o que, como estudante de jornalismo, me interessou muito) e sobre obra em si.

É um livro de fácil leitura, mas que para não ser digerido como uma simples história, requer algum conhecimento histórico básico. Aos interessados em política, por sua vez, é um livro que se torna ainda mais interessante. 

Não importa como você irá lê-lo, desde que tenha a consciência de que há muito mais do que uma história de bichos que resolveram ser os donos da fazenda onde moram. Qualquer dúvida em relação às alegorias é facilmente encontrada no posfácio. 

É claro que cada um, em determinado momento, poderá ter uma leitura diferente de acordo com o conhecimento acumulado. Caso eu leia esse livro em dez anos, provavelmente notarei muito mais referências do que notei agora. Ainda assim, foi uma ótima leitura e que me surpreendeu pela sua simplicidade na linguagem, contrastante com a temática apresentada.

Muitos conheceram Becky Bloom através do filme Os Delírios de Consumo de Becky Bloom (2009), e foi esse o meu caso. Só depois descobri que havia uma série sobre a Becky, escrita pela Sophie Kinsella. Não sou uma leitora assídua de chick lit, a verdade é li menos de cinco livros do gênero, mas por algum motivo esse me chamou mais a atenção, fosse pelas críticas positivas ou pelo simples fato da Becky ser uma jornalista (ainda que não das melhores, é verdade).

Eis que o tema de fevereiro do Desafio Literário era "livros que façam rir" e, no mesmo mês, consegui o livro numa troca com a Tati Feltrin. Era o momento de dar uma chance à série Becky Bloom.

Antes de qualquer coisa: sim, é livro de mulherzinha - como costuma ser chamado - mas nem por isso é um livro ruim. Ao contar a história de uma shopaholic espera-se que ela seja fútil e que não tenha mais a acrescentar, certo? 

Errado.

Becky é uma jornalista de economia e, ainda que não goste muito do foco do seu trabalho e nem entenda direito sobre finanças, sua vida profissional também é explorada no livro. Aos poucos, ela consegue até mesmo alcançar alguns sonhos através do seu trabalho. O livro também fala muito de amizade, independência, um pouco de romance e, é claro, compras!

O consumo exagerado de Becky, principalmente (mas não exclusivamente) ligado a roupas, é a base de toda a história que nos é contada, mas não gira necessariamente em volta disso. Explico: você não vai ler 428 páginas que falem apenas sobre compras loucas feitas pela Becky e suas consequências. Há vários pequenos conflitos, e podemos conhecer bem a personagem principal, que ao contar sua história compartilha seus momentos mais embaraçosos e engraçados.

Como não se trata de uma adolescente, a protagonista não tem uma personalidade irritante e nem está a procura do amor da sua vida. Ela é um pouco desastrada e irresponsável, sem dúvidas, mas isso fez com que o livro se tornasse realmente divertido. Além disso, Becky é criativa e sonhadora,  logo, qualquer leitora que se identifique com ao menos um desses aspectos irá se encantar com ela.

É um ótimo livro de entretenimento (não mais do que isso) e foi muito bom lê-lo depois de uma história pesada como a de Laranja Mecânica. Indico a todos que procurem um livro que seja sinônimo de diversão, com uma história nem fofa demais, mas que também permite que o tempo de leitura seja para relaxar - aliás, o texto flui tão bem que li bem mais rápido do que esperava. 

E não tenha medo, o livro não faz com que o leitor passe a ter uma vontade descontrolada de sair fazendo compras por aí. No meu caso, o efeito foi contrário. As situações da Becky me ajudaram a pensar melhor no que é necessário ou não entre o que tenho comprado, e acredito que passei a ficar mais atenta antes de decidir se compro algo ou não. Afinal, quem quer ficar endividado?

"Acima De Tudo O Amor", de Henrique Prata

Editora: Gente

ISBN: 9788573128130

Ano: 2012

Páginas: 280

"Acima de tudo o amor" é, antes de qualquer coisa, uma biografia detalhada sobre a gestão do Hospital do Câncer de Barretos (HCB) e o que há por trás de sua história. Não sei se é por morar no interior de São Paulo, mas ouvia, desde criança, as pessoas falarem frequentemente sobre o hospital e nunca soube o porquê de sua importância. Só sabia que fica a Barretos, a cerca de três horas de onde eu moro.

Henrique Prata tinha tudo para seguir a carreira do seu avô na área agropecuária, e não tinha interesse algum em seguir a carreira de seus pais, que eram médicos. Mas Paulo Prata, seu pai, iniciara há anos um projeto de um hospital, o Hospital São Judas Tadeu, que a princípio apenas lhe dava prejuízos, apesar do seu esforço em manter o hospital e fazer com que ele crescesse. Resumindo, o maior sonho do médico era criar um hospital predominantemente voltado a atender pessoas necessitadas, através do sistema público de saúde, e ajudar essas pessoas a combater o câncer com os maiores cuidados possíveis.

Diante dos problemas de gestão que seu pai tinha, Henrique Prata precisou ajudá-lo a controlar os gastos do hospital para que, quando ele estivesse estabilizado, pudesse ser vendido. Mas não foi bem por aí. Como nem tudo é como planejado, Henrique Prata acabou fazendo do hospital sua grande meta de vida. Ao buscar sempre os melhores tratamentos, ótimas instalações e a participação apenas dos melhores profissionais, ele gerenciou o hospital e fez com que ele se tornasse o mais renomado de oncologia no país - sem perder o foco em ser um hospital humanizado, o que lhe deu o nome de "O hospital do amor". E sem ser formado em medicina ou ter qualquer outra graduação.

A perseverança de Henrique Prata e seu perfeccionismo foram os fatos que mais me impressionaram durante a leitura do livro. Seu interesse em viajar para conhecer os hospitais que tinham os sistemas mais avançados demonstram que, para ele, "bom" nunca fora o bastante. E é por isso que hoje, além de tratamento, o hospital também conta com prevenção e pesquisa - o que ninguém podia imaginar a princípio.

O Último Desafio (The Last Stand)

EUA , 2013 - 107 minutos 

Direção de Kim Jee-woon

Roteiro de Andrew Knauer e Jeffrey Nachmanoff

A princípio, a história parece se passar apenas em uma pequena cidade chamada Sommerton, que se encontra na fronteira entre os EUA e o México. Ray Owens (Arnold Schwarzenegger) é o xerife da cidade, na qual não há qualquer ação e cuja delegacia conta com outros três policiais, que pouco têm o que fazer em meio à rotina tranquila do lugar.

Achei essa primeira parte bem diferente do que costumamos ver nos filmes atuais de ação, que se passam em cidades grandes onde algo sempre está acontecendo. 

O fato de ser uma cidade do interior foi algo que desde o começo me chamou a atenção, e eu sabia que poderia esperar algo interessante ao decorrer do filme.

Pouco tempo depois, no entanto, outra história nos é contada (essa, admito, mais clichê entre os filmes que já estamos acostumados): no FBI, em Los Angeles, os agentes têm a missão de transportar um perigoso ex-chefe do narcotráfico que, é claro, consegue fugir com um plano já pré-arquitetado e com a ajuda de outros bandidos.

EUA , 2012 - 127 min. 

Direção de Ang Lee

Roteiro de David Magee baseado em livro de Yann Martel

Antes de assistir ao filme, não pensei em toda história que poderia haver antes da "aventura" em questão - Life of Pi é um nome muito melhor, acreditem.

Primeiro precisamos saber: quem, afinal, é Pi?