Assim como muitos, conheci o escritor Markus Zusak através do sucesso A Menina que Roubava Livros (2005), um livro incrível que me fez voltar ao hábito da leitura depois de muito tempo. Pouco tempo depois outro livro do autor foi publicado no Brasil, e eu não pensei duas vezes antes de comprar. Esse livro era Eu Sou O Mensageiro (2002) e, ainda que sua história em nada se parecesse com o primeiro livro do autor que eu li, a narrativa continuava sendo maravilhosa. Ambos estão na minha lista de favoritos.

Certo, e qual a relação disso com O Azarão? Eu explico.

Apesar de ter sido publicado no Brasil no final de 2012, O Azarão foi originalmente publicado em 1999 e é o primeiro livro de uma trilogia. O livro é narrado em primeira pessoa pelo seu protagonista, Cameron Wolfe, um garoto de 15 anos que mora com os três irmãos e seus pais. Ao longo do livro, que é bem mais curto que os outros do autor que já foram publicados aqui, Cameron nos mostra como é sua vida, sua convivência com os demais e as dificuldades de um adolescente loser nessa confusa fase de transição.

A princípio Cameron nos conta uma história simples sobre os roubos que planeja (mas não coloca em prática) com seu irmão Ruben, sobre suas primeiras paixões não correspondidas e, em geral, a vida simples que leva. Dito isso, o livro parece simples - e, de fato, é. Não só pela história nada extraordinária de um adolescente que enfrenta essa fase de mudanças, mas também a narrativa do adolescente condiz com a sua realidade. Muitas vezes Cameron chega a nos contar fatos que acontecerão apenas muitos capítulos depois, a ansiedade do garoto se sobrepõe à linearidade. Então, há poucas surpresas.

Mas voltei a encontrar os traços da escrita de Markus em O Azarão, ainda que ele seja, entre os livros do autor, o que menos me prendeu. Ao fim de cada capítulo Cameron nos conta um sonho que teve, e acho que esses sonhos são o maior ganho do livro. Consegui ver significados importantes em cada um deles, todos relacionados à vida e às dúvidas do adolescente. Já que, devido à sua idade e personalidade, Cameron não consegue escrever de forma muito desenvolvida e muito menos construir boas metáforas, os sonhos suprem essa "pobreza" na escrita.

É um livro pequeno, que pode facilmente ser lido numa tarde - não só pela linguagem simples, mas também pela incrível diagramação, com folhas amarelas, letras grandes e bom espaçamento. Quem já passou pela adolescência talvez se veja um pouco em Cameron e, mesmo aqueles que não  passaram por essa fase do mesmo jeito que ele, com certeza irão criar certa afeição pelo garoto em algum momento do livro. Admito que no começo ele me irritava, mas sua vontade de mudar e a maior consciência da vida ordinária que levava fez com que eu passasse a gostar mais do personagem.

Ler O Azarão tendo a consciência de que o livro possui alguns traços autobiográficos do autor pode deixar tudo mais interessante, principalmente para aqueles que, assim como eu, já são fãs da escrita de Markus Zusak.

É um livro bom, e com certeza lerei os outros dois livros da trilogia: Fighting Ruben Wolfe e When Dogs Cry - ainda não publicados no Brasil. Mas recomendo O Azarão (The Underdog) aos que já tenham lido ao menos um dos outros livros de Markus Zusak, que são suas reais obras primas.